“NARRATIVAS ENQUANTO NAS RUTAS” - por Renato Lopes

Esta viagem foi concebida em pensamento, no mês maio de 2008, juntamente com o amigo e irmão Edson Steglich, busquei informações e adquiri uma moto XT 660, (o Edson já possuía uma), pois entendíamos que seria a mais apropriada para a viagem. Nossa pretensão era percorrer por completo a Carretera Austral e boa parte da Ruta 40, na Patagônia Argentina. Para oferecer uma pequena amostra do que foi a viagem, segue um resumo dos post que enviei quando estava na estrada...

“NARRATIVAS ENQUANTO NAS RUTAS”

Na partida de Santa Maria, dia 15-11-2008, tivemos a presença completa das nossas famílias, dos amigos, Irio e Clery, e a felicidade da companhia do casal Cunha e Tânia até Uruguaiana, onde fomos recepcionados pelo mano Luciano & família. E que recepção! Um gostoso churrasco. Valeu, mano! Obrigado ainda pela carta verde…

Entramos na Argentina e chegamos à Federal, onde pernoitamos, pois a concessão da tradicional “carta de apresentação” dos amigos Gendarme atrasou-nos um pouco.

Seguimos até Alta Gracia para conhecer o museu Casa de Che Guevara. Muito legal, ele foi um grande motociclista ao seu tempo… chegamos a Carlos Paz, uma cidade pequena, mas aconchegante, que já eu conhecia.

No terceiro dia, pernoitamos em San Juan de Jáchal, mais ao norte. Aí tivemos a notícia de que o passo Água Negra estava fechado em razão de ter nevado, na sexta-feira e sábado anterior. Com paciência e bons contatos, conseguimos autorização da Gendarmeria Nacional para chegar até o Passo Água Negra, um dos objetivos da viagem. Agradecemos ao Suboficial Guevara pela atenção. Uma estradinha de rípio e de muitas curvas nos levou até 4.874 m.s.n.m. Bem, as fotos justificam o esforço para chegarmos até os penitentes, de extraordinária beleza.

Obras de recuperação na estrada nos fizeram retornar da divisa com o Chile e seguirmos por caminhos de rípio para o Passo El Libertador, costeando a Cordilheira até Uspallata.

Em Santiago, fomos recebidos pelo amigo BR’s Juan Arenas. Guiados por ele, compramos pneu para a moto do Edson e realizamos manutenção das mesmas. À noite, um jantar preparado pelo anfitrião regado com bom vinho. Obrigado, amigo!

Seguimos em direção ao Sul até Talca, (onde pernoitamos) para, no dia seguinte, chegarmos ao Passo Pinho Hachado. Retornamos à Argentina para pernoitamos em Zapalla. Depois, a Junin de los Andes e voltamos ao Chile pelo Passo Mamuil Malal (ou Tromen), onde conseguimos avistar o vulcão Lanin ainda com muita neve. Belas fotos rolaram por lá. Visitamos Pucon, mas o vulcão Villarica estava completamente encoberto por nuvens. Pernoitamos em Lincan Ray no Hotel Becker à beira do Lago Calafquen.

Pela manhã, tomamos um café sinistro, servido por um japonês muito esquisito e fomos direto a Osorno pela via Panan. Por uma estrada secundária, chegamos à cidade pitoresca de Puerto Octay, contornamos o Lago Llanquihue, experimentando mais 35 km de rípio, passamos pelo vulcão Osorno que também estava encoberto. Lugares belíssimos à volta do lago, passamos por Ensenada e almoçamos cordeiro assado próximo a Los Riscos. Depois, Puerto Varas, uma bela cidade de origem alemã, que nos lembra a Serra Gaucha, e chegamos a Puerto Mont, por uma estrada nova, secundária, mas muito interessante, boas curvas e paisagens com muito verde.

Na manhã do dia seguinte, pegamos o pneu comprado pelo Edson na transportadora e trocamos o óleo das motos. Com o comércio abrindo às 10 horas, nossos planos para o dia sofreram atraso. Trocamos de roupa no hotel e fomos para a Ilha de Chiloe, passando por Ancud, Castro até chegarmos a Quellón, onde fomos até o marco zero da via Panan. Fotos para registro da cidade de Quellón e porto, ambos muito desorganizados.

No retorno, passamos em uma pequena propriedade rural, compramos salmão defumado, após uma ótima degustação, e retornamos a Puerto Mont, chegando quase à meia-noite.

Após o sono dos justos, seguimos nossos planos, conforme contato com os Carabineiros de Hornopiren, que conseguiram transporte de barco privado para passarmos as motos para Caleta Gonzalo.

Começamos a descer a Carretera Austral desde o km zero em Puerto Mont e, ao chegarmos a La Arena para travessia a Pueiche com o trasnbordador, fomos informados, pelo dono do restaurante ao lado do porto e por um guia de turismo, de que a estrada de Caleta Conzalo até Chaiten estava bloqueada em razão da queda de três pontes.

Retornamos a Puerto Mont e checamos as informações na Oficina de Turismo, localizada na Praça de Armas. Depois de confirmadas as informações, nos deram notícias de que o próximo transbordador para Chaiten só sairia em 3 dias. Fomos conferir na empresa e, para nossa boa surpresa, havia um para o dia seguinte, às 19 horas. Aproveitamos o dia seguinte para conhecer um pouco mais Puerto Mont, o que foi muito bom, pois a cidade possui muitos atrativos, com ótima infraestrutura de serviços.

Quando saíamos do hostal para levar as motos até o embarque, chega o motoviajante David, um sul africano com uma moto BMW 650, vindo do Alaska. Ele comentou que pretendia descer parte da Carretera Austral e seguir a Ushuaia nos próximos dias. Conversamos um pouco, e rapidamente ele mudou de idéia e foi tentar uma passagem.

Encontramos novamente o David no embarque. Ali começou uma boa amizade, pois ele seguiria conosco por vários dias. Aproveitamos para trocar ótimas informações sobre muitos lugares.

A viagem de Puerto Mont a Chaiten, com o transbordador, é de 12 horas, com bom espaço para os passageiros e motos. Tivemos que dar umas dicas aos marinheiros de como se fazem as amarras das motos, pois a do Edson quase caiu. O incrível foi não conseguirmos tomar café no transbordador. A cafeteria fechou às 20 h e 30 min e não abriu mais. Sorte que tínhamos nosso salmão defumado e refrigerante e, com as bolachas do David, ficou perfeito.

Desembarcamos com chuva em Chaiten e fomos direto fazer algumas fotos do que era possível, pois o tempo estava muito fechado e não pudemos ver muita coisa, especialmente o vulcão e as montanhas. Realmente foi uma tragédia aos nossos planos. Toda a população ainda está deslocada para as cidades próximas, Puerto Mont, Castro, Ancud, Quellón etc. O governo só permitiu o retorno de 20 famílias para fazer alguma manutenção, pois não existe água e nem energia elétrica, nada funciona por lá.

Seguimos pela Carretera Austral com os primeiros 24 km de asfalto, depois muito rípio, chuva sem trégua o dia todo, e a fome bateu na expedição. Felizmente, depois de uns 60 km, encontramos um hotel restaurante próximo a um grande lago, onde tomamos um ótimo café, mas muitíssimo caro: seis mil pesos!

A chuva continuou sem parar, e a estrada ficava, a cada km, pior, muita obra, muita queda de barreira, pouca visibilidade, sem poder parar para fazer fotos, enfim, um trecho perdido, nem olhar muito para o lado era possível, pois o rípio molhado não perdoa…

Abastecemos as motos em La Junta, no o posto Copec, sem cobertura, na chuva mesmo, colocando a mão junto ao bocal do tanque para não entrar água... Chegamos exaustos, com frio e molhados, a Manihuales. O Edson ficou completamente molhado, dos pés à cabeça, só suportou porque o alemão é duro na queda e muito rústico… Eu já estaria morto! A roupa especial e as botas do David, adquiridas nos EUA, também não aguentaram. A água passou. 

Conseguimos uma pousada muito simples, mas com um precioso banho quente. O Edson teve tempo de quase incendiar tudo, quando colocamos fogo no fogão a lenha e rapidamente secamos as roupas e botas. A sala do café da hospedagem ficou a maior bagunça…

No dia seguinte, ainda com tempo feio e chuviscando, chegamos a Puerto Aisen e Puerto Chacabuco. Muito legal a cidade, pena que a chuva não permitiu boas fotos. O curioso é que, mesmo com a chuva, os chilenos caminham na rua e cortam grama, naturalmente, sem proteção de guarda-chuva, muito estranho, levando-se em consideração o frio e a chuva.

Seguimos até Coihaique, capital da região, cidade pequena, ótima estrutura de serviços, limpa e organizada. Após um tour, aproveitamos para lanchar e telefonar. O frio continuou, mas a chuva deu uma trégua, embora as informações fossem de que deveria chover até o sábado. Entramos no povoado de Puerto Murta para abastecermos e fotografar o bosque de árvores secas.

Chegamos a Puerto Rio Tranquilo enfrentando a Carretera Austral com muito rípio solto, sem trilho dos carros, com as máquinas nivelando a estrada, para nos ajudar e dar as boas-vindas. Mas chegamos! Encontramos rapidamente o ótimo Hostal Los Pinos (para a região) e jantamos.

O dia amanheceu com céu de brigadeiro e seguimos para Villa O’Higgins, passando por Cochrane com trecho de bom rípio. Na chegada à cidade encontramos um casal de australianos, cada um com sua moto BMW 650 Dakar que iam em direção a Chile Chico para voltar à Argentina. Abastecemos e conferimos, com os Carabineiros e o frentista do posto de serviço, a situação da “benzina” em Villa O’Higgins, distâncias, estrada etc. Ambos afirmaram que a benzina se vende por lá.

De Cochrane, partimos para Pueto Yungay, passando por um trecho de 30 km terrível, ruta estreita, curvas fechadas e rípio fofo. Tráfego quase zero. Em Puerto Yungay, a Carretera Austral é cortada por um canal de degelo do Campo de Hielo Sur. Uma hora de travessia com o transbordador que é gratuito. A paisagem é atraente, para todo lado uma montanha com o topo nevado, cascatas e muito verde.

Da travessia até Villa O’Higgins são mais 100 km com a estrada ainda mais estreita, na verdade, um caminho entre as montanhas, lagos, precipícios, vento e frio. Como queríamos chegar ainda de dia, não paramos muito para as fotos. Chegamos à Villa O’Higgins, às 21 h e 15 min, ao entardecer. Imediatamente parei a moto na placa de boas-vindas para registrar a realização de mais um sonho. Ficamos no Hostal El Mosco, e, antes mesmo de nos acomodarmos, sugeri que pretendia resolver a questão do abastecimento das motos. A gasolina estava em falta na Villa, tentamos em toda parte, inclusive com os Carabineiros. Acabamos conseguindo com sua vizinha, dona do restaurante em que havíamos jantado, a Valkiria, que tinha um estoque de 60 litros. Essa senhora nos tirou do sufoco, pois a benzina só chegaria na terça-feira. 

No domingo pela manhã, fomos até o final da Carretera Austral, mais 7 km, onde encontramos outro pequeno porto e a placa indicativa do último km da estrada que ainda é um mito e tem o nome oficial de Camino Longetudinal Austral Presidente Augusto Pinochet. Fotos para registro e retorno à Villa que possui, aproximadamente, 250 pessoas, fica em um pequeno vale cercado de montanhas com topo nevado. A infraestrutura está melhorando, novos empreendimentos podem ser notados. Até disponibilizaram internet “we fi” liberada em toda Villa, que ainda estava em teste havia uma semana.

Na segunda-feira, partimos de Villa O’Higgins passando por Caleta Tortel, uma vila pitoresca, sem existem ruas, somente em passeios para pedestres com escadas por todo lado. Fica em uma báia cercada de morros. Imaginem, é subir e descer na pernada… Comemos um salmão com salada curtindo aquele visual diferente. O estresse foi a estrada, 40 km do pior rípio solto, recentemente nivelado pela máquina.

Para chegarmos a Passo Roballos, tocamos meio direto, só paramos para abastecer em Cochrane.

Deviam mudar o nome daquele Passo para “roubada”. Uma estrada de campo, atravessando estâncias, cercas, quase nada de sinalização e sem vestígios de tráfego de veículos, apenas as marcas dos cascos dos animais, com trecho de 25 km quase intransitáveis de tanta pedra.

A poucos km da aduana (posto dos Carabineiros), o David, já cansado, queria acampar, receoso de pilotar desde a manhã. Acabamos por chegar até a aduana onde fomos gentilmente recebidos pelos Carabineiros que nos cederam uma casa para passarmos a noite. Permitiram o banho e serviram um bom café. Deixamos nossa marca com adesivo e oferecemos o troféu relativo à nossa aventura.

Quando nos preparávamos para partir no dia seguinte, um Carabineiro veio ao meu encontro e me ofertou o patch oficial dos Carabineiros que utilizava na farda. Um gesto inesquecível de fraternidade, de gentileza com os motociclistas e aventureiros, que apagou todas as lembranças de dificuldades…

Após 10 km da Aduana do Chile, encontramos a Gendarmeria da Argentina para mais um carimbo de reingresso no país. Continuamos por “caminhos’ ripiados pelos campos da Patagônia Argentina, utilizando mapas e GPS para chegarmos à Ruta 40. Comecei a sentir um forte mal-estar que me deixava com tonturas. Abastecemos em Bajo Caracoles e aproveitei para tomar uma coca-cola e comer bolachas. Chegamos com dificuldade a Tamel Aike, às 16 horas, na sede da empreiteira que pavimenta a Ruta 40 e ali ficamos. Ótima recepção do encarregado da empresa, banho quente, café e jantar “free”. O churrasco do jantar não desceu bem e voltou… a partir daí foi só bolacha e chá de boldo por três dias.

No dia seguinte, partimos com destino a El Calafate. A Ruta 40 nesse trecho está horrível, abandonada… muito difícil. Abastecemos na Estância La Angostura para chegarmos com folga até Tres Lagos. Nesse trecho encontramos muitos aventureiros e participamos de um “concerto mundial” com representante de uns seis países em pleno rípio, vento e frio da mística Ruta 40. Quase todos com motos 650 cc. 

Antes de Tres Lagos socorremos o Sueco que havíamos encontrado em Santiago, com o pneu dianteiro da moto Kavazaki 650 furado. Seguimos juntos até Tres Lagos. Em El Calafate, ficamos todos no mesmo Hostal da viagem anterior e mesmo quarto. Ainda na chegada lavamos as motos que estavam tomadas de poeira.

No outro dia, passeio na cidade e fomos com as motos a Perito Moreno. A estrada agora está asfaltada e contínua tudo muito show. Foi em El Calafate que nos separamos do David, ele sairia mais tarde e ficaria uns três dias no Parque Torres del Paine. O David Collett (www.vagamoto.com) integrou a Expedición Carretera Austral e Ruta 40 por dez dias. Foi um grande parceiro de viagem, ótimo motociclista, solidário e amigo. 

Fomos direto a Puerto Natales cruzando mais uma vez para o Chile pelo Paso Dorotea e nos dirigimos a Torres del Paine enfrentado vento forte. No setor de recepção, informaram-nos de que as torres estavam encobertas e que o tempo não mudaria por três dias. Mais uma decepção, embora soubéssemos que esses três dias eram muito relativos, enfim, visitamos a Cueva de Milodon e seguimos a Puerto Natales, cidade portuária que vive do turismo. E eu continuava na sopa e chá ... 

A viagem para Punta Arenas também foi com muito vento. Alguns ciclistas não conseguiam nem empurrar as bicicletas, outros acampavam nas baixadas, às margens da estrada para se proteger do forte vento. A chegada a Punta Arenas também foi com vento insuportável e logo fomos garantir o embarque a Porvenir para o dia seguinte. Demos uma passadinha na Zona Franca e fomos para o hotel onde deixamos as motos e saímos a pé, pois não era possível ficar com moto parada ou rodar em baixa velocidade. O transbordador saiu às 9 h 30 min do dia seguinte para Porvenir. A chegada foi complicada em razão do forte vento que atingia a região. A estrada de rípio até San Sebastián foi a melhor que já andei até hoje, sensacional! Depois foi um sufoco o vento até Ushuaia, que foi amenizado com a boa recepção do frio depois do Lago Fagnano. No transbordador, havíamos encontrado quatro motociclistas argentinos e seguimos juntos até Ushuaia. Um deles tem uma irmã que mora lá e havia reservado hostal, onde também conseguimos acomodação. A primeira impressão foi que a cidade cresceu muito desde quando estivemos lá em 2004. Seguramente está mais bonita.

Segunda-feira, feriado em Ushuaia. Aproveitamos para passear, ir novamente à Bahia Lapataia, e depois conhecer os amigos virtuais, Luiz Maria e Rose, do Latitude 54 Sur. Casal simpaticíssimo e, por coincidência, o Luiz estava de níver. Eu havia levado um livro para presenteá-lo, ficou tudo certo… Ele havia reservado camisetas e adesivos do 1º Encontro de Motoviajeiros do Fim del Mundo que ocorrera duas semanas antes de nossa chegada.

À noite, convidou-nos para jantar com a família em um bom restaurante. Eu já me sentia melhor e com fome!

A terça-feira foi reservada para dar manutenção as motos e, à noite, visitamos mais um amigo, também motociclista, o Dr. Herman, médico pediatra, por indicação do estimado amigo motociclista e escritor, Dr. Guillermo Godoy. Como constava no planejamento da viagem, fui até Puerto Willians, o Edson acabou desistindo. A informação local era que não seria possível levar a moto, mas desconfio de que se tivesse mais tempo, eu conseguiria. De Punta Arenas é possível, mas é necessário dois dias só para ir. Assim, cheguei de barco à cidade mais Austral do continente, mais um objetivo da viagem alcançado. Claro que os amigos argentinos não aceitam, pois insistem que é Ushuaia, no entanto, as coordenadas geográficas que marquei não deixaram dúvidas. 

Com meu retorno a Ushuaia, na quinta-feira ao meio-dia, pegamos a estrada por volta das 14 horas. Chegamos a Cerro Sombreiro, onde ficamos em um ótimo hostal à beira da estrada.

De San Sebastián seguimos pela estrada que leva a Porvenir, mais ou menos 50 km e depois se pega a direita. Estrada ótima, sem tráfego e sem muita poeira.

Bom café da manhã e logo pegamos a primeira balsa do dia para a travessia do Estreito de Magalhães, às 9 h 15 min. Mais uma fronteira e ingressamos novamente na Argentina, onde o vento da Patagônia foi implacável. Sem grandes sustos, chegamos a Fitz Roy e pernoitamos. No dia seguinte, fomos tomar o café da manhã em Caleta Oliva, seguimos pela Ruta 3 até Comodoro Rivadavia, onde rumamos para oeste, pela Ruta 26, passando por Sarmiento para chegar à tardinha em Esquel. Um dia de 800 km rodados com vento regular, muitas retas e um calor escaldante. Alguns desvios para estradas de rípio “safado”, aqueles provisórios ao lado da estrada. A região é uma das mais ricas em campos de petróleo, foi só o que vimos por lá.

De Esquel seguimos viagem para uma região muito badalada e turística, passando por El Bolson e Bariloche, onde chegamos no domingo antes do meio-dia. Bom almoço no restaurante, El Nuevo Gaúcho, ótimo atendimento e excelente assado. 

À tarde, passeamos para fazer algumas fotos e seguimos para Villa Angostura. Que bela cidade, muito aconchegante e boa recepção aos viajantes. Encontramos outros motoviajeiros, como o Julio, um argentino-autraliano, que atualmente mora em Sydney. Hospedamos-nos na Hosteria do ACA, excelente, uma das melhores da cidade, 3 estrelas e a preço justo.

No outro dia, passamos por San Matin de los Andes, onde enfrentamos nossos últimos km de rípio muito solto em razão de obras, 56 km levantando muita poeira! Região de montanhas, lagos, belas paisagens, curvas acentuadas e nova vista do vulcão Lanin coberto de neve. Tudo lindo, mas creio que com neve seria mais interessante. Optamos por ficar em uma cidade desconhecida até então, Tranque Lauquen. Linda cidade, porte médio, muito organizada, ótima infraestrutura de serviços, limpa. Quando partíamos do hotel, o argentino Alberto nos reconheceu pelo adesivo do Brazil Rider’s. Um papo rápido, pois se aproximava um temporal, mas foi suficiente para sabermos da amizade com nosso sobrinho e Conselheiro do BR’s – RS, Luiz Felipe de Passo Fundo. Conseguimos escapar da chuva enfrentando um forte vento frontal que dificultava a pilotagem, para chegarmos a Buenos Aires às 16 horas com forte calor. Fomos direto comprar passagem para a travessia à Colonia del Sacramento com o Buquebus e ainda sobrou tempo para comprar uma surpresa para o Fellipe.

O Edson não conhecia Colonia del Sacramento, assim que ocupamos a manhã do dia seguinte para um tour pela parte histórica da cidade e ruínas da Arena de Tourada.

Em nossa passagem por San José, visitamos o amigo Roberto Cerdena, um grande motoviajeiro que prestigia o Mercocycle há 11anos, em Santa Maria. Foi uma ótima ideia, ele e a Blanca ficaram felizes com nossa visita e nós mais ainda em poder conhecer seu museu particular que conta a sua vida de esportista e motociclista. Sensacional! 

Após tomarmos um sorvete com os amigos, o Roberto nos acompanhou até a saída da cidade e seguimos viagem para Rivera, chegamos às 21 h 30 min para pernoitar. Meu pensamento relembrava cada momento dessa grande motoaventura em meio à forte saudade da família e dos amigos.

Foi uma viagem inesquecível, de grande intensidade, de estradas que exigem muito do piloto, mas que nos oferece a verdadeira liberdade para apreciarmos lugares e paisagens únicas. Foram 14.230 km rodados, dos quais 2.515 km em estradas de rípio e 23 aduanas. Mais um projeto realizado com êxito e que já me remete a boas lembranças.