Viagem ao Fin del Mundo e arredores - por Ariberto Sendtko Filho

Quase um ano de preparativos, reuniões, churrascos, estudo dos mapas, roteiros, consultas na internet.

Documentos pessoais e das motos em dia , motos revisadas na oficina do Jorge, enfim tudo pronto, rumo ao fim do mundo.

USHUAIA aqui vamos nós.

Sábado, 31 de janeiro de 2004, início da viajem, o dia parecia sorrir para nós.

Como combinado, aí pelas 6 horas da manhã ( já não conseguíamos dormir direito há alguns dias), encontro no posto da rótula, lugar da saída.

Lá estávamos, Juan Guadalupe Cortes ( Suzuki V-Stron 1000), João Renato Lopes ( Suzuki GSX 750 ), Edson Steglish ( Yamaha Virago 1100), Jefersom Marchiori ( Yamaha TDM-900) e eu , Ariberto Sendtko Filho ( Honda CB 500). Os últimos quatro, integrantes da Iron But Association.

Também estavam lá, alguns companheiros do Grupo Gaudérios do Asfalto, de Santa Maria, RS, do qual fazemos partes. Amigos, aventureiros, parentes, que levavam consigo desejo de boa sorte em nossa jornada.( Cleber, Rogério , Julio, Ermeto, Fellipe e Wilma Lopes).

Saímos com o sol e a felicidade irradiando nossas faces, acompanhados por alguns quilômetros pelo Cleber.

Passando por Rivera ( primeiro problema mecânico, os cabos da bateria da moto do Edson se soltaram) ,e aí começa a história de fazer novas amizades, o Edson é especialista, entramos no Uruguai ( muitas vezes, os tramites alfandegários foram facilmente resolvidos devido aos anos e quilômetros de estrada do Jeferson ). Já no Uruguai, em Tacuarembó, encontramos dois motociclistas ( 125 cc) de Dom Pedrito , voltando do Ushuaia.

Seguindo viagem , o tempo começou a mudar, e a tempestade se aproximava, quando chegamos a Payssandu, já rolava muita água.

Atravessamos a fronteira para a Argentina e pernoitamos em Colon. Seguindo viajem pelo entroncamento rodo-ferroviario e o complexo de pontes de Zarate, pegando a ruta 3, a oeste da grande Buenos Aires, passando por Lujan , com sua belíssima Catedral, indo pernoitar em Três Arroyos, a mais ou menos 3000 km de Ushuaia ( já tínhamos percorrido em dois dias em torno de 1800 km).

Pela Ruta 3, nos eram apresentadas paisagens novas, como inúmeras plantações de girassóis e muitos geradores aeólicos de energia, Iniciando-se as infindáveis retas que pareciam terminar no horizonte.

Seguindo por Bahia Blanca , Rio Colorado, Sierra Grande até Puerto Madry, onde pernoitamos, e chuva ainda castigava, mas dando folga em alguns momentos.

Em Puerto Madry, em um serviço de solda, consertamos o suporte das maletas da moto do Jeferson , que tinha trincado, e alguns quilômetros depois ( 80 km), em Trelew, paramos em uma oficina “especializada de beira de estrada”, para novamente consertá-lo, o que resolveu o problema até o final da viajem, e o Steglish sempre “fazendo amizades” .

Seguindo pela Ruta 3 , perto da entrada para Camaronês, em um posto de gasolina encontramos o Sérgio e sua família, do GELOBOM , brasileiros de São Paulo em um motorhome, também viajando em direção ao sul.

Passando rapidamente por Comodoro Rivadávia, região grande extratora de petróleo, onde se observavam incontáveis “cavalos mecânicos” perfurando a terra. Em um posto de gasolina perto de El Salado, encontramos mais alguns brasileiros motociclistas de Porto Alegre e São Paulo voltando do Ushuaia e um casal de Brasília indo ao fim do mundo.
Por volta das 10 horas da noite ( ainda claro, pois quanto mais ao sul mais tarde é o anoitecer) chegamos em Porto San Julian, e enfrentamos a nossa primeira dificuldade em conseguir alojamento.

Seguindo pela Ruta 3, onde a paisagem quase começa a se tornar cansativa, pois não muda em alguns mil quilômetros ( muita pedra, pouca vegetação, raras pessoas), ao ultrapassarmos uma montanha, tem-se uma agradável surpresa, Piedra Buena, um oásis no cenário desértico da Patagônia. Mais algumas centenas de quilômetros e chegamos a Rio Gallegos, e neste local alteramos nossa rota, saindo da Ruta 3, pegando a Ruta 5 ( tudo previamente planejado) partindo em direção a Esperanza ( no mapa parecia uma cidade, na realidade um bolicho e um posto de gasolina) e chegando a El Calafate.

Indiscritível El Calafate, as imagens ( filmagens , fotografias) não conseguem traduzir a beleza e imensidão do lugar.Fizemos três pernoites nesta cidade.

No primeiro dia, fomos ao Puerto Bandera ( pequeno porto no Lago Argentino, que banha as encostas da Cordilheira dos Andes), tomamos um barco tipo catamarã e passeamos por mais ou menos 10 horas , pelos braços do Lago Argentino, passando pela Boca Del Diablo, Glaciar Spegazzini, Glaciar Upsala, Bahia Onelli, Bahia Cristina , etc.

Recolhemos pedaços de icebergs para o convés do barco e saboreamos um belo whisky 20 e poucos anos, com um gelo de no mínimo 300 anos( muito bom ).

As imagens que ficaram em nossa lembranças são incríveis, e a cada vez que as lembramos, os nossos corações aceleram, como se estivéssemos com a mão direita sempre pronta, para ouvir o barulho do motor.

Voltando a noitinha a El Calafate, cidade simpática, povo simpático, uma verdadeira Torre de Babel, pois em qualquer lugar que chegávamos, haviam diversos idiomas no ar ( inglês, francês, alemão, espanhol, português, turco, italiano, etc).

Em um determinado momento, apareceu um turco, que viu nossas motos estacionadas na frente do hotel, e entrou nos procurando, pois disse ele ( o que deu pra entender) que viu os adesivos em nossas motos do Iron But Association, e ele também era um, lá da Turquia ( encontro muito gratificante).

Na manhã seguinte, partimos em direção ao famoso Glaciar Perito Moreno. Fantástico bloco de gelo, que parece não ter fim. Sentíamo-nos pequenos seres quase que insignificantes ante a beleza e ao tamanho da visão. Um paredão de gelo com quase 30 metros de altura por alguns quilometro de largura e quase uma centena de comprimento, só vendo para crer. A cada rompimento de uma lasca do gelo, o barulho estrondoso de sua gela na água, ou sua queda em meio a geleira .

Neste parque, realizamos um traking por terra, observando de longe a geleira, indo até alguns mirantes , com visão mais previlegiada do glaciar. Depois fizemos um passeio de barco , pelo lago , até perto do paredão ( uns 700 metros dele,por medida de segurança), pois os que se aventuraram a chegar mais próximos que isso, muitos não voltaram para contar a história.

Os jantares sempre fartos, eram o ponto de êxtase do dia transcorrido, era o momento de relatarmos aos outros as emoções sentidas.

Na manhã seguinte , partimos pela Ruta 5 , de volta Rio Gallegos (a idéia inicial era ir a Puerto Natales e descer até Punta Arenas pelo Chile, mas abortamos esta idéia, pois a quilometragem no rípio( estrada de pedrinha redonda e lisa, tipo um cascalho) era muito grande), e próxino ao Monte Aymond atravessamos a fronteira com o Chile no Paso Integracion Austral, onde encontramos um motociclista australiano, e o Steglish “fazendo amizades”.

Estávamos no Chile, a caminho de Punta Arenas, no caminho a estância San Gregório, fundada em 1876, um gigantesco complexo de prédios e galpões no meio do nada ( campo) e às margens do estreito de Magalhães, uma das maiores exportadoras de lã do país.

Punta Arenas, onde fizemos dois pernoites, em no Hostal de La Avenida, pousada familiar muito simpática, onde depois de muitos dias, voltamos a ter uma café da manhã quase igual aos cafés brasileiros.

Cidade antiga, casario típico de sua colonização espanhola, subindo o Morro da Cruz, uma visão ampla de toda a cidade.

Na manhã seguinte fomos até a Pinguinera Seno Otway,parte do Estreito de Magalhães banhado pelo no Oceano Pacífico, onde pudemos conhecer os pingüins da espécie magalhanes.De noite, janta , no restaurante do mercado.

Queríamos atravessar o Estreito de Magalhães, de Punta Arenas a Pourvenir ,na Ilha do Fogo, mas nos domingos e segundas feiras não há embarcações , então resolvemos voltar para cruzar o famoso estreito de Punta Delgada a Cerro Sombrero.

Ao chegarmos ao porto, uma placa muito grande dizia, Bienvenidos al Estrecho de Magallanes , atravessamos em uma barca muito grande, muitos ônibus, caminhões, carros e nossas motocicletas. A essa altura do campeonato, éramos autoridades, pois todos nos queriam ver, conversar, tirar fotos conosco. Pois tinham que ser muito malucos, para virem do Brasil ( já tínhamos feito uns 5.000 km desde a saída) de moto até aqui.

Atravessamos, pisamos na famosa Terra Del Fuego, mais uns dez quilômetros rodados e acabou o asfalto, era o temível rípio pela frente, mas que nada, o encaramos com destreza, própria de estradeiros aventureiros.

Deparava-mos com manadas de cavalos na estrada, vez por outra alguns guanacos teimavam em competir com nossos motores ao longo da estrada, pelo acostamento ou mesmo pelo campo, indescritível.

Novamente, tramites alfandegários em San Sebastian, e saímos do Chile , entrando novamente na Argentina, seguindo em direção a Rio Grande ao Lago Fagnano, onde inicia a subida da Cordilheira dos Andes ( muito rípio, mas estão em obras, e daqui a alguns anos, talvez uns 4 ou 5, será tudo asfalto, espera-se).

Rodando pela cordilheira a visão era de beleza ímpar, curvas, penhascos, rochas, neve nos picos, lagos, vegetação característica). Grata surpresa tivemos ao chega no topo da cordilheira, pois quando começamos a descer no outro lado, já era tudo asfaltado, até a chegar ao Uschuaia ( apesar de asfalto, a pista é muito perigosa, escorregadia, e ainda mais que garoava).

De tardinha, por volta das 21:00 horas, enfim, chegamos ao Fin Del Mundo, Uschuaia. Novamente o problema de alojamento, já eram em torno de 10 horas da noite e ainda estávamos procurando, até que resolvemos ficar em um albergue familiar, para no outro dia resolvermos o que faríamos, pois estávamos cansados ( o rípio cansa o corpo e e a mente).

Como detalhe, sempre dividíamos os quartos, como éramos em cinco, geralmente ficavam 3 num quarto e 2 no outro, quando não dava, sorteávamos as camas, os beliches, quem dormia no chão. Neste alberge familiar, conseguimos 3 quartos( mas não os tínhamos vistos ainda) e como o Jéferson normalmente perdia os sorteios e nas últimas noites foi o que ficou mais mal acomodado, decidimos deixar o quarto individual para ele, qual a nossa surpresa geral e em especial a dele, quando viu o seu quarto, mais parecia um armário embutido, sem ventilação, a flauta corre solta até hoje, foi o único que consegui a proeza de dormir em um armário.

Na manhã seguinte, procuramos novas acomodações um pouco melhores e nos instalamos na Hosteria Alakaluf, simples mas bem localizada, no centro da cidade ( bem melhor), e tiramos o restante do dia para cuidar de quem nos levou até lá, nossas motos. Lavagem, lubrificação, troca de óleo ( neste item tem outra história interessante, pois “era com acssitência”), enfim motos prontas para voltar, isto é quase pronta, pois eu ainda necessitava de uma cubierta para mi moto, e como estava difícil de encontra-la. Só a consegui ( de Sahara ) graças a um maluco, piloto de kart, que rodou uma tarde inteira em seu coche , chovendo e resolveu o problema de mi moto.

Manhã seguinte, passeio de barco pelo Canal de Beagle, uma linda vista do mar para Uschuaiai, na encosta da cordilheira. Passamos pelo Farol de Eclaireus, Isla de Los Lobos, onde habitam milhares de lobos marinhos e aves da região (Cormorão), estávamos a 1000 km da Antártida e a 3040 km de Buenos Aires. Passeio com duração de umas 3 horas, com retorno ao porto.

Como ainda era meia tarde, fomos conhecer o Cañadon Negro e o Glaciar Martial, para isso, subimos a cordilheira até determinado ponto e pegamos um teleférico, e subimos, subimos, subimos. Descemos do teleférico e seguimos a pé, sempre subindo. Lá de cima , agora avistávamos o Uschuaia das montanhas,com o Canal de Beagle a suas costas, momentos antes avistávamos, do barco, no Canal de Beagle, o Ushuaia com as montanhas em suas costa, parâmetro interessante.

A medida que subíamos o ar ia ficando rarefeito, e a certa altura , eu sentei e empaquei, aí o Juan disse que ficaria comigo, os outros seguiram adiante, alguns minutos depois o Jefersom voltou, sentamos e ficamos admirando a paisagem e respirando um ar muito puro, de depois de refeitos, começamos a descida. O Steglish e o Renato continuaram a subir e voltaram um pouco mais tarde.

A essa altura da viagem, já tinha uma certa história de “rusticidade”, pois precisa ter uma certa rusticidade para fazer acontecer a história que estávamos fazendo. Depois da subida, os dois , começaram a flautera que não bastava só ter rusticidade (mas haveria de se ter) sem “tutano”, pois foram só os dois que foram quase até o pico para pisar no gelo e fazer algumas fotos.

Voltamos quase noite à cidade, passeamos, compramos uns salgados, um White Horse, um saco de gelo. De noite, nos reunimos em um dos quartos, para sorver o malte e dar boas risadas, com comentários de nossa viagem até este dia ( esquecemos de jantar).

Na manhã seguinte, pegamos as motos e fomos ao Parque Nacional Terra Del Fuego, Bahia Lapataia, onde finaliza a Ruta 3, estávamos a 3063 km de Buenos Aires.

Sacamos una película, em frente a tradicional placa do parque; motos, bandeira do Brasil, Rio Grande do Sul e dos Gaudérios do Asfalto(um dos objetivos de nossa viagem).

Ainda dentro do Parque, saímos em direção a Bahia Ensenada , Canal de Beagle, pegando um barco inflável, para umas dez pessoa e fomos a Isla Redonda ( o Juan abortou esse passeio), onde esta localizado a Unidad Postal Fin Del Mundo – Correo Argentino, para carimbar nossos passaportes ( outro objetivo de nossa viajem).

Missão cumprida, queríamos retornar a bahia, mas o barco tinha que esperar os outros visitantes que tinham saído caminhar pela ilha, a opção era tomar um outro barco inflável( não sei se dava pra chamar de barco), para 4 pessoa ( viemos em cinco, pois tinha o piloto). Pra começar, quando ligou o motor, este começou a falhar, tome aceleração, e lá vínhamos nós, com a frente do barco erguida e de vez em quando , batendo na água ( e frio era intenso). Uns 15 minutos depois estávamos na Bahia (sãos e salvos, graças a Deus), o Juan nos espera ansioso.

Depois destas aventuras, saímos do parque e passamos pela Estación del Fin Del Mundo – Ferrocarril Austral Argentino.

Voltamos à Uschuaia, tomamos um chocolate quente, e como ainda era cedo, resolvemos fazer outro passeio , na Estação de Esqui de (o Juan abortou esse passeio), onde existe , na temporada de inverno, uma verdadeira multidão de esquiadores.

Estava muito frio, pois tinha chovido na noite anterior. Acho que foi o dia mais frio.

Pegamos a cordilheira e fomos até a base as estação Cerro Castor, onde pegamos o teleférico estrutura bem melhor que o teleférico anterior ) e subimos até uma determinada altura, onde tinha uma base na montanha. De lá poderia se tomar outro teleférico, para ir até mais alto ( mas estava em manutenção), mas nos contentamos em ficar uns momentos por ali admirando a magnífica paisagem .

Retornamos a cidade a noitinha, passeamos, compramos lembranças para os amigos e familiares, fizemos uma boa refeição em um restaurante tradicional da cidade, com direito a champagne.

Manhã seguinte, fatídica, para mim e para o Juan.

Saímos de Uschuaia, felizes, realizados, como diz meu amigo Steglish, sensação de missão cumprida, mas ainda faltava toda a volta.

Passamos pela cordilheira, fazendo o caminho inverso, entramos no Chile, em San Sebastian, e pegamos o rípio.

Entre San Sebastian e Cerro Sombrero ( estrada de rípio, somando todos os trajetos de rípio , no total foram em torno de 500 km ), em uma determinada curva, encontrei um ônibus no sentido contrário, estrada com trilho somente para um automóvel, recém patrolada, já dá pra prever o resultado. Para não bater de frente com o ônibus, saí da estrada e peguei o camaleão alto de pedra que fica nas laterais, pois a medida que os coches passam, empurram as pedrinhas para o lado. A moto jogou de um lado para o outro ,e legitimamente , capotou, pois estragou as duas laterais , em cima e toda a frente ( bolha, mesa, faróis, sinaleiras, espelhos, etc). Minha maleta lateral de fibra, ficou como um quebra-cabeças.

Lembro somente de ter desequilibrado e quando vi, estava deitado no chão, vendo a moto caída, vazando gasolina de seu tanque, rapidamente me levantei , ergui a moto, e aí sentei e senti o tombo. Neste momento, chegaram o Juam e o Steglish e o Renato que estavam vindo atrás de mim, e pararam para me auxiliar, momentos depois fiquei sabendo que o Juan também tinha caído alguns metros mais atrás e o Steglish o tinha ajudado a levantar, mas nada grave.

Logo em seguida, retornou o Jeferson, que estava a minha frente, pois não viu mais a poeira na estrada( tínhamos que dar uma distância entre um e outro, pois a poeira era intensa, na estrada recém patrolada).

Quis levantar, mas não deixaram. Disseram para ficar sentado, enquanto o Juan me prestava assistência, enquanto que os demais companheiros ajeitavam a moto ,a fim de permitir que continuasse viajem.

Andamos mais uns 200 km, e chegamos a Rio Gallegos, já na Argentina, fomos a um hotel, e aí o nível de adrenalina diminuiu e começou a aumentar a dor. Fui a um hospital, sempre acompanhado pelo Juan ( médico) fazer alguns exames,Raio X , etc, e como não foi constatado fraturas, na manhã seguinte seguimos viagem ( eu segui abaixo de analgésicos e anti-inflamatórios, mas doía bastante e tínhamos ainda em torno de 4.000 km para rodar). E sem a bolha da moto, o vento me incomodava muito, chegamos a Comodoro Rivadavia , no meio da tarde. Aproveitamos para conhecer a cidade, eu saí na garupa do Steglish. Encontramos alguns motociclistas locais e demos umas voltas com eles. Pernoite em um bom hotel , com um fantástico café da manhã ( parecia Brasil, pois na Argentina o café normal é uma xícara de café , uma ou duas meia lua, e uma ou duas torradinhas).

Seguimos em direção a Trelew, onde tínhamos a informação que conseguiria um novo parabrisas, e foi o que ocorreu. Seguimos com intenção de ir a Puerto Pirámide, na Península de Valdez. Já na península , depois de muitos quilômetros rodados, tinha uma cancela, onde era cobrada entrada para o parque ( muito cara , quase que uma diária de hotel, e ra só pra entrar). Resolvemos abandonar o passeio e retornar a Puerto Madry para reabastecer e seguimos até Sierra Grande ( cidade quase que desaparecendo, antigamente era lá que existiam as maiores minas de carvão, ferro , da Argentina,hoje vive do turismo de conhecera as cavernas deixadas pelos mineiros) onde pernoitamos.A noite , saímos e fomos comer uma parrillada típica do local, em uma parrilla muito peculiar.

De Sierra Grande, passando por Viedma, Bahia Blanca, Três Arroyos, Necochea e chegando a tarde em Mar del Plata.

Nos instalamos em um big hotel ( 10 pesos por pessoa, imaginem ) e saímos conhecer a cidade e a praia ( praia cheia de enseadas artificiais, com exploração privada na maioria dos locais, mas muito bem cuidada). Depois de muito caminhar pela orla marítima, como tínhamos muito tempo sobrando, resolvemos fazer um city tour, com um ônibus estilizado de barco “El Barquito Delfim”. Podem imaginar as cenas ( muitas ridadas), passeamos por algumas ruas e avenidas, fomos ao porto e retornamos ao hotel.A noite saímos a pé para jantar, muitas quadras depois resolvemos pegar dois táxis para nos levar ao local escolhido ( táxi na Argentina é muito barato). Um bela janta.

Na manhã seguinte , pegamos a Ruta 2 e seguimos em direção a Buenos Aires, onde chegamos por volta do meio dia, almoçamos e fomos ao Puerto Madero, pois queríamos atravessar o Rio de La Plata de Buquêbus para Colônia del Sacramento, no Uruguai, mas para nossa surpresa, os horários de travessia estavam descompassados com os nossos horários, então resolvemos pegar o próximo buquebus e ir a Montevidéu, onde chegamos a tardinha. Nos alojamos em um hotel , na parte velha da cidade, e dá-lhe parilla de novo.

De manhã, saímos e fomos até uma prainha a uns 30 km de Montevidéu, visitar uma amigo do Jeferson , que trabalha em Santa Maria. Retornamos a Montevidéu, e quando estavamos abastecendo, entrou no posto um motociclista solitário, brasileiro, de São Paulo, o Zé Meireles. Conversamos, e ele resolveu alterar sua rota e seguir conosco. Perto de Tacuarembó, paramos parar tirar umas fotos na estátua de Gardel ( da saída até minha queda, eu tinha tirado umas 1500 fotos, depois da queda, a vontade já não era a mesma, e as fotos foram rareando). Chegamos a Rivera, alfândega , e BRASIL, estávamos em casa.

Pernoitamos no lado brasileiro , em Santana do Livramento , jantamos com nosso novo amigo, o Zé, e pela manhã tomamos café juntos. Aí o pessoal queria comprar uns queijos , etc, em Rivera ,antes de sair.Demoramos, e o Zé partiu em direção a Porto Alegre, depois São Paulo.

A essa altura , recebíamos inúmeras mensagens e telefonemas , dos amigos de Santa Maria, que queriam saber onde estávamos e que horas chegaríamos.
Passando por Rosário do Sul, São Gabriel , pela Br 290 até o trevo da Br 392 , em direção a Santa Maria.

Ao fazermos o contorno do trevo, uma surpresa, no asfalto , escrito com tinta branca, tinha uma mensagem de “Boa Chegada” e assinada pelo nosso novo amigo, Zé Meireles. ( São pequenos gestos como este, que confirmam que motociclistas são uma grande família ).

Chegando perto de Santa Maria ( uns 20 km ) , estavam, amigos, companheiros, familiares, esperando na estrada, nossa chegada.Sensação maravilhosa. E fomos em comboio até a cidade.

Chegamos em casa, dia 21 de fevereiro de 2004, 22 dias de viajem, na minha moto, 9978 km, vamos arredondar para 10.000 km de sonho realizado. Um ano de planejamento tornado realidade, quem nos visse falar um ano atrás, jamais imaginaria que iríamos mesmo fazer esta viajem.

Apesar da queda, que depois ficou constatada uma lesão entre a clavícula e o acrômio, fiz mais 4.000 km, pilotando.Mas com certeza , valeu a pena e faria tudo novamente.
Aprendemos nestes 22 dias, a tolerar uns ao outros, às suas manias, a participar de suas tristezas e alegrias.

Esta viajem , além da aventura, dos lugares fantásticos que conhecemos, serviu também para o nosso crescimento pessoal, pois aprendemos e partilhamos um pouco de nossas vidas.

Hoje , temos histórias e estórias, para contar para nossos netos e para o resto de nossas vidas.

Obrigado, amigos de estrada.

Obrigado, amigos que aqui ficaram, torcendo por nosso retorno.

Obrigado, família, por compreenderem , que um homem sem sonhos, não é ninguém.

Texto e Fotos de Ariberto Sendtko Filho